quarta-feira, 11 de março de 2015

O que é preciso para ser um “bom terapeuta?”

Faço as minhas palavras as palavras lindas e sensíveis da psicoterapeuta e escritora Patricia Gebrim:

"Para ser um 'bom terapeuta' é preciso conhecer as próprias feridas, pois elas fazem parte da verdade mais profunda que nos ensina que é através da nossa própria dor que podemos sentir a dor do mundo e nos sentir parte dele também.
É preciso ser capaz de acolher as próprias lágrimas, embalar os próprios medos, aceitar os momentos de raiva e hesitação. É preciso conhecer as paredes da própria prisão, sem deixar de pressentir a luz que chega através das grades. 
É preciso reconhecer-se também nessa luz, e nas estrelas, e nos rios, e nas montanhas, e no canto dos pássaros, e no sorriso de uma criança. 
É preciso sentir-se parte da natureza e não conseguir deixar de suspirar ao assistir à beleza de um silencioso pôr do Sol.

É preciso ter senso de humor, saber criar alegria e leveza sem precisar negar a dor e a tristeza. Um “bom terapeuta” é um equilibrista e sempre tem um pouco da alma do artista. É preciso ter amado profundamente outro ser humano, e ter sido capaz de entregar-se totalmente a esse amor.
Tudo isso é preciso para ser um “bom terapeuta”, e muito mais...

Um “bom terapeuta...” cuida para que sua vida contenha momentos de silêncio, paz e contemplação.   Olha através dos olhos e reflete de volta a luz que encontra dentro de cada ser humano.


Não cai nas armadilhas do tempo e sabe que qualquer pessoa é sempre uma pessoa a ser conhecida, mesmo que já se tenham encontrado muitas vezes. Nunca se cansa de descobrir o outro, não se guia pelo passado, não cristaliza histórias. Ajuda a criar movimento e libertação.
É capaz de dar asas à imaginação e compartilha a memória de que todos somos seres maravilhosos. Assim, ajuda as pessoas a descobrirem o dom de reinventarem a si próprias a cada momento.
Gosta de viajar por terrenos desconhecidos. Oferece sua companhia para desvendar cavernas sombrias, mergulhar em regiões profundas ou nas matas mais densas. Em troca, procura companhia para voar entre os brilhantes astros do Universo, cavalgar em caudas de cometas e depois voltar à Terra escorregando por entre as cores do arco-íris.


Confia no ritmo da natureza e oferece seu espaço de trabalho como um útero sagrado onde o milagre da vida possa acontecer.
Confia na sabedoria intuitiva presente dentro de cada pessoa, e nunca contraria essa sabedoria. Sabe respeitar o NÃO do outro. Sabe respeitar o SIM. Sabe respeitar os momentos de dor e silêncio. Sabe respeitar a raiva ou qualquer sentimento que se faça presente. Não tenta suprimir, desviar ou controlar o que não compreende. É capaz de suportar sua incapacidade de compreender todas as coisas, pois muitas vezes é isso o que acontece. 

 Acredita na simplicidade de ser apenas quem é, e faz disso sua oferenda. Seus maiores recursos são a sensibilidade e a reverência que sente ao se encontrar frente a outro ser humano, a profunda compaixão que sente por sua dor e o vislumbre do potencial.

 Quando olha para outro ser humano, um “bom terapeuta” não vê apenas o que existe, mas também as maravilhosas possibilidades de vir a ser. Vê na semente adormecida toda a beleza da flor já aberta para o mundo. O maior dom do “bom terapeuta” é ser capaz de compartilha essa
visão.

.

É capaz de ouvir as pessoas com seu coração, vale sagrado que existe além do certo e do errado, encontrando a presença do divino em qualquer manifestação.
É capaz de permanecer incondicionalmente ao lado do outro para ajudá-lo a aceitar e compreender que sua vida é o fruto doce ou amargo de suas próprias escolhas.
É capaz de ajudar o outro a reencontrar sua capacidade de sonhar, para que dessa forma ele possa fazer escolhas diferentes, que tornem mais doces os momentos de sua vida


Um “bom terapeuta” nunca desiste. Nunca desiste de seu caminho, da possibilidade de um mundo melhor com mais harmonia, mais vida e mais alegria.  É persistente, paciente, existente; embora nunca esqueça de que cada pessoa tem o livre arbítrio para decidir seu próprio rumo. Sabe que não é responsável pelo outro, por seus sucessos ou por suas dificuldades, embora participe intensamente de cada passo dado no caminho da vida.

 
Um “bom terapeuta” às vezes se sente frágil e cansado e nesses momentos sabe procurar ajuda. Sabe que muitas vezes ainda se sentirá impotente e fracassado e que não será capaz de fazer muita das coisas que são esperadas de um “bom terapeuta”.

Reli tudo o que tinha escrito. Senti-me pequena, incapaz de tarefa tão grande.
Foi então que encontrei a luz.
Para ser um Terapeuta é preciso, antes de qualquer coisa, Ser.
Não um “bom terapeuta”. Ser “quem você É”. Provavelmente não tão perfeito ou equilibrado quanto gostaria talvez muitas vezes inseguro, confuso ou assustado, muitas vezes triste, com raiva E ainda assim “você”.

Ser Terapeuta é um ato de amor. E como qualquer ato de amor deve começar por aceitarmos e amarmos a nós mesmos."









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