Imagine que
uma grande amiga sua se desabafe com você o quanto está sofrendo devido a uma
separação e você fala para ela: “Claro que essa pessoa não quer mais ficar com
você, tem tantas melhores por aí, você está gorda, feia e não é muito
inteligente”. Talvez, com esse exemplo, você pense que nunca falaria isso pra
alguém que ame, que estupidez!
Imagine que você vai contar para
seu amigo com muita tristeza que as coisas não estão indo bem no trabalho e ele
te diga: “Você é muito incompetente mesmo, você não é bom o bastante para esse
trabalho”. Isso não parece algo que um
verdadeiro amigo falaria, não é? Não mesmo! Mas troque esse amigo por você:
você falando com você mesmo. Quantas vezes não falamos (alto ou em pensamento,
sozinhos ou para outras pessoas) crueldades para nós e sobre nós mesmos?
Muitas pessoas agem como seus próprios
– e piores- inimigos. Isso acontece através da autocrítica, que muitas vezes
leva a uma autopunição, mesmo que inconscientemente (a autossabotagem), por não
se achar merecedor de coisas boas. O melhor antídoto para isso é a
autocompaixão. É você se tratar como seu melhor amigo, saber se escutar, ser
compreensivo, dar boas orientações, incentivo, acreditar em si, tratar-se com
carinho, gentileza e amor, diminuir o autojulgamento e a rigidez, ter paciência
consigo e assim poder sentir-se mais em paz.
Estudos recentes revelaram que quem
cobra demais de si apresenta níveis mais altos de depressão e ansiedade. Já quem
é mais compreensivo com as próprias falhas é mais feliz, otimista e tem mais
saúde. Um grande número de pesquisas também tem encontrado que praticar
autocompaixão está relacionado a benefícios como:acelerar o processo de recuperação emocional após um divórcio; acalma mulheres
que lutam contra autoimagem corporal negativa; contribui para auxiliar mães de
crianças autistas; ajuda no enfrentamento do envelhecimento; conduz a
comportamentos mais saudáveis, como ir ao médico ou praticar exercício físico;
ajudar a aliviar a ansiedade diante de testes e medo de falar em público, etc.
Importante dizer aqui o que não é
autocompaixão: Não é autopiedade nem
egocentrismo: ao sentir pena de si você se sente inferior, enfatiza
sentimentos egocêntricos e o apego ao sofrimento, você se sente como vítima, o
que não é verdade, e isso te enfraquece. Não
é autoindulgência: Algumas pessoas acham que ao serem autocompassivas, vão
se deixar fazer tudo o que quiserem, não saberão se dar limites (por exemplo:
“hoje foi um dia muito estressante, eu
mereço comer um pote de sorvete”), mas a autocompaixão não é fugir das
responsabilidades e ser preguiçoso, sabemos o que realmente nos faz bem e
saudável -a longo prazo também-, temos atitudes construtivas e não destrutivas.
Assim como cuidar de um filho, faz parte do amor dizer não. Não é negar os erros, as dificuldades e as
emoções consideradas negativas: Ao contrário! Autocompaixão é reconhecer e
aceitar sua vulnerabilidade humana (e é preciso muita força interna para assumir
as fragilidades). É entender que, veja só: não há nada de errado em às vezes
errar! Os erros fazem parte do nosso crescimento, e muitas vezes importante
para nossos aprendizados. Quando temos compaixão conosco, isso nos motiva muito
mais a tentarmos novamente, do que ficarmos nos “chicoteando”. Quando somos
muito severos, temos mais medo das falhas, e por isso mais dificuldade em agir.
Para desenvolver o hábito da
autocompaixão é importante observar seus pensamentos, seu diálogo interno. Ao
tomar consciência dessas “vozes” críticas você pode se questionar: “É assim que
eu gostaria de ser tratado? O que eu falaria para alguém eu amo?” Ao invés de
ficar se acusando, se culpando (isso não só não ajuda como prejudica) você pode
escolher mudar o tom e usar afirmações acolhedoras.
“Cultivando a
autocompaixão, nós não nos avaliamos conforme os nossos sucessos, e não nos
comparamos com os outros. Ao invés disso, reconhecemos as nossas falhas e erros
com paciência, compreensão e bondade. Percebemos os nossos problemas dentro de
um contexto maior da nossa condição humana compartilhada. Então, a
autocompaixão, nos permite estar mais conectados com as outras pessoas, e mais
positivamente à sua disposição. Finalmente, a autocompaixão nos permite ser
honestos conosco. Com essa atitude de aceitação, a autocompaixão promove uma
compreensão realista da nossa situação.” – Thupten Jinpa