Conhecer a si mesmo para tornar-se o que é - e ter coragem pra ser-.
Tem uma frase do falecido poeta curitibano Paulo Leminski que diz: “Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além.” Ah, e como é bom simplesmente permitir ser quem se é, diria também, quem se ESTÁ, já que mudamos muito. É uma sensação de leveza e liberdade. Parece muito redundante esse negócio da gente dizer "seja você mesmo". Ué, quem vai ser você, além de você, e quem você pode ser se não você?! Ninguém melhor para ser você mesmo do que você (não é ótimo?), por isso é importante expressar nossa singularidade. O problema é que na tentativa de agradar o outro, do medo do que vão falar, ou seja, de enganar o outro e a si mesmo usamos máscaras, além das armaduras, para defender da nossa vulnerabilidade, sendo que esta pode ser tão enriquecedora se a usarmos com nossa sensibilidade. Na verdade, acho que nossa maior fraqueza é quando queremos parecer fortes. Forte para os outros, forte pra si mesmo, enganando os outros, se enganando, deixando de vivenciar toda beleza humana em nós. Somos covardes por termos orgulho e não mostrar nossa sensibilidade, fingir que está tudo bem ou nos mostrarmos frios e controlados. Sentir e assumir nossa vulnerabilidade, ao contrário, nos fortalece - sem tirar nossa sensibilidade-, podemos sentir mais compaixão e nos torna mais leve. O fato é que precisa ter coragem de se deixar ser tudo que é, de não deixar de mostrar o que sente.
Quando temos vergonha de sermos quem somos, acabamos não sendo por completo, ficamos com joguinhos mentais, preocupados com aparências, comparamos demais, e desperdiçamos energia em TENTAR PARECER ao invés de simplesmente SER. Ao agir ouvindo nosso coração, dizendo sim pra si, estamos nos valorizando e a vida flui melhor, pois usamos aquela energia que antes sustentava as máscaras para coisas realmente válidas e benéficas.
Para "tornar-te quem tu és" (Nietzsche) é preciso estar sempre desenvolvendo o "conhece-te a ti mesmo" (frase inscrita no Templo de Apolo em Delfos). A importância dessa sabedoria tão antiga está sendo felizmente cada vez mais reconhecida. Muitas pessoas estão buscando algumas ferramentas, como a psicoterapia, para olhar mais para dentro, do que para fora, que é o melhor modo de fazer escolhas mais conscientes, que tem consequências mais positivas. Mesmo não se conhecendo tão bem, claro que não se deixa de ser si mesmo, porém, acontece de se agir com muita inconsciência (que gera sofrimento), deixando de manifestar tantos potenciais.
O caminho do autoconhecimento não tem fim, o melhor que podemos fazer é aproveitar a jornada, valorizar cada passo, amar cada experiência e descoberta. O que ajuda é então reconhecer que lugar você está, e que sempre é possível acessar sua “melhor versão”, a melhor versão de agora, e não lá da frente. E quando você estiver agindo incoerentemente com o que acredita ser melhor, procure mudar, porém, sem culpa, pois ela só paralisa. Acolher-se, com todos supostos defeitos e erros, como uma criança que ainda está aprendendo e tratar-se com paciência e compaixão traz muito mais resultados positivos do que ficar se criticando, com diálogos mentais negativos que acabam com a autoestima e motivação. A neurose está em nosso conflito entre o que somos e o que achamos que deveríamos ser, e nunca chegamos nesse ideal, deixando de enxergar a totalidade maravilhosa que já somos, aqui e agora! E assim aceitando nossa inteireza, sem fingimentos, como disse Leminski: podemos ir além.